Ao me preparar para formular este texto, eu estava escutando a música “Pais e Filhos” da banda Legião Urbana e há um trecho que dialoga muito com o que quero transmitir:
“Sou uma gota d’água. Sou um grão de areia. Você me diz que seus pais não lhe entendem, mas você não entende seus pais. Você culpa seus pais por tudo, e isso é absurdo. São crianças como você. O que você vai ser quando você crescer?”
Todos nós estamos aprendendo como as relações acontecem, estamos em um processo de autoconhecimento, autoaceitação, compreensão; e por esse processo ser vivo faz-se necessário que haja novos rumos. A relação entre pais e filhos é muito complexa porque o processo vai acontecendo conforme é construído e não existe um manual ou uma receita do que fazer e como agir.
Na adolescência há variáveis agravantes como o desenvolvimento biológico, o contexto onde o indivíduo está inserido e três aspectos primordiais: o familiar, o social e o afetivo.
Como o adolescente está no processo de descobrimento de outros universos e outros sistemas sociais ele começa a passar pelo que eu chamo descolamento que é algo natural e necessário para ele poder se perceber como indivíduo já que está se formando e se lançando ao mundo para conquistar sua maturidade — sair da dependência e chegar a independência.
O adolescente tem a necessidade de conhecer e passar por novas possibilidades, experiências, vivências e algumas vezes aparece alguém e diz que ainda não é o momento. Deparamo-nos com uma situação conflituosa porque, enquanto queremos que eles cresçam, acabamos os segurando. É muito difícil encontrar esse equilíbrio, pois é uma situação complexa, mas necessária.
O adolescente começa a ter relações externas ao ambiente familiar e conhece outras referências sociais junto ao ambiente escolar e aos amigos. A adolescência é um processo de preparação para a vida adulta para que ele se torne um indivíduo autônomo.
Afetivamente, os impulsos hormonais vão criando os novos encontros, as paqueras. São muitas novidades e muitas vezes o adolescente não sabe lidar com todas as variáveis presentes nesse processo de desenvolvimento da maturidade. E essas relações vão mexendo em todas as áreas desse indivíduo e nós, pais e responsáveis, precisamos apoiá-los e orientá-los.
A subjetividade é a potência e vulnerabilidade que cada indivíduo possui e é a comunicação que faz a ligação entre as subjetividades. Temos um problema quando as relações familiares se tornam tóxicas e observamos algumas disfunções como um problema de comunicação (onde não há mais caminhos para a existência de bons diálogos) e a troca de papéis (observamos pais imaturos e filhos maduros).
Mas como podemos melhorar esse caminho?
Primeiro é preciso se disponibilizar para a criação de um ambiente seguro, pois através de ambientes estáveis podemos observar a criação de relações estáveis e estabilidade, é preciso existir acolhimento e segurança ao redor dos indivíduos. Depois, proporcionar apoio emocional — a vida não é estática, é cheia de ondas. Há momentos em que as coisas estão tranquilas e outros em que não estão. Quando não estamos bem é preciso pedir ajuda e quando estamos bem, podemos melhorar o ambiente e fornecer apoio para o outro. Assim é necessário permitir o pensamento, acolher e compreender o mundo do adolescente e fazer a mediação que vai levar ao respeito da subjetividade porque o indivíduo está se tornando quem ele é.
A função do pai, mãe e responsáveis é disponibilizar cuidados, prover e promover acessos, como acesso à educação, à saúde e às experiências que vão ajudar o adolescente a se tornar a pessoa que ele é. Educar também é apresentar limites, mediar, ajudar e administrar o desenvolvimento desse indivíduo que está precisando de você.
Ele está precisando de compreensão e está precisando se expressar e ganhar força e apoio para se tornar quem é na sua máxima potência, na sua máxima possibilidade.
Aquilo que o adolescente está sentindo é legítimo e válido, precisamos dimensionar esses sentimentos e emoções de modo equilibrado. Primeiro, trazemos para a consciência e à medida que entendemos o problema podemos começar a pensar em soluções, assim começamos a criar estratégias, e depois partimos para a prática.
Temos que ter a postura de fazer acontecer porque o tempo e a vida estão passando. Se todos os indivíduos estiverem fortes emocionalmente, teremos um grupo coletivamente forte e assim vamos tomar melhores decisões.
Não espere pela mudança do outro, mude você. Comece a avaliar suas possibilidades e potencialidades, reflita sobre suas crenças e como você está contribuindo para o mundo. Para que este universo se torne um mundo um pouquinho melhor para que nossos filhos tenham esse legado, e encontrem um espaço cada vez melhor.