Eu quero começar explicando qual foi a reflexão que fiz para chegar ao tema. Estava conversando com o Pedro, meu filho, sobre questões educacionais, modelos escolares e, porque alguns alunos se saem melhor e outros têm mais dificuldade.
Quando falamos de processo de aprendizagem, podemos pensar nas crianças, adolescentes e também podemos pensar em nós, adultos.
Nos serviços que presto para empresas na área de treinamento e em assessoria de Recursos Humanos, também é uma queixa contínua e constante as questões relacionadas ao comprometimento ou a falta dele em relação ao trabalho.
Quero falar sobre o comprometimento e a responsabilidade no aprendizado para uma mudança de comportamento, então para isso preciso voltar e falar um pouco sobre perspectiva de ensino para compreender como chegamos a certo modelo de aprendizado.
Vou falar sobre duas perspectivas, uma que vou chamar modelo tradicional e um modelo de visão de mundo ecológica.
Estas são as formas de pensar que vão conduzir o processo de aprendizagem, entre o que não se sabe e o que se sabe.
No modelo tradicional, temos a escola ou o tutor que vai apresentar o conteúdo para o indivíduo. É como se o aprendiz chegasse como “um copo vazio”, ele não possui o conhecimento e o professor, aquele que apresenta o conteúdo, “uma forma para encher esse copo vazio”. Estou usando essa metáfora para ficar fácil de entender. Então no modelo tradicional, um detém o conhecimento e o outro vai aprender a partir da pessoa que detém o conhecimento.
Esse processo de aprendizagem não é neutro, é emocional, então quando vamos aprender algo é preciso que haja um sentido. É um processo emocional relacionado ao desejo, ao interesse e à necessidade.
O aprendizado vai passar pelos sentidos do indivíduo e se não fizer sentido dificilmente ele terá uma produção de sentido em relação àquele conteúdo que faça com que ele detenha ou se envolva para aprender uma nova habilidade ou um novo conhecimento. No modelo tradicional, o aprendizado é hierárquico, ou seja, um sabe e o outro não. É um processo que envolve uma relação de poder. Onde um tem o poder do conhecimento da informação e o outro não tem.
O grande problema nesse modelo é um distanciamento entre o instrutor e o aprendiz, entre aquele que apresenta o conteúdo e aquele que quer aprender.
Por que há um distanciamento?
Porque há uma hierarquia, existe uma relação de poder em que o instrutor diz: “Você tem que fazer de determinada maneira, tem que ouvir o que estou lhe dizendo e eu tenho a verdade e a informação”. O que muitas vezes não é um processo motivacional.
Os processos motivacionais são importantes aqui porque o indivíduo precisa estar envolvido e comprometido com esse aprendizado.
No modelo tradicional, quando há uma falha, quando um aluno vai mal, ou há algum problema, onde fica a responsabilidade?
A culpa cai no instrutor que não soube passar o conhecimento corretamente. E, por outro lado, se dá certo vemos congratulações para o aprendiz.
Quando dá certo, tudo bem, estamos salvos.
E quando não dá certo?
Esse é o problema que eu gostaria de questionar. Quando não dá certo, normalmente a responsabilidade recai sob o sistema, o método, o instrutor e o aprendiz.
Então, será que esse é o modelo mais motivacional? É o modelo que nos leva a querer nos envolver mais com o conteúdo, com o conceito que está sendo aprendido?
E, nesse ponto, vou apresentar a outra ideia que é a do modelo da construção coletiva e da autorresponsabilidade em que se considera o conhecimento do aluno também como verdadeiro, válido. O aprendiz não chega como “um copo vazio”, ele não chega sem nada.
Independente da idade, a pessoa já tem uma experiência vivenciada. Assim no modelo ecológico precisamos olhar para o todo e assim o processo de aprendizagem passa a funcionar através da corresponsabilidade, onde todos devem estar comprometidos com o processo entre o não saber e o saber.
Há uma condução do processo. O instrutor é aquele que vai apresentando os conteúdos a partir daquilo que o indivíduo também conhece e sabe. A retenção desse conhecimento, a responsabilidade e o comprometimento provavelmente terá um processo mais natural e assim podemos atingir as motivações individuais. Nesse modelo o conteúdo é apresentado a partir do que a pessoa já sabe.
- Como você se interessa por um assunto?
- Quando ele é imposto para você de uma maneira autoritária e hierárquica ou quando esse conteúdo faz sentido e tem a ver com você?
- Como você se relaciona com seus momentos de aprendizagem?
Em alguns momentos, faz-se necessário apresentar o conteúdo de modo preciso com a necessidade de uma atenção inicial, mas depois, é preciso que o indivíduo se relacione com o conteúdo para que ele se aproprie da ideia do conceito.
O indivíduo precisa produzir seus próprios sentidos e é assim que as possíveis compreensões do conteúdo apresentado acontecerá.
O comprometimento e a responsabilidade estarão presentes nos dois modelos, mas quando o comprometimento e a responsabilidade estão mais aprofundados, o indivíduo se apropria mais dos conceitos, e certamente, ele se envolverá mais e terá mais resultado com o conteúdo apresentado.