A saúde mental está no nosso dia a dia e cada vez mais precisamos conversar sobre as questões que perpassam esse tema. Então hoje vou falar sobre equilíbrio mental, ao pensar no tema me veio à cabeça a imagem de um equilibrista na corda bamba, tentando se equilibrar. E ele vai utilizando da sua habilidade, da sua técnica, dos anos de treinamento, das experiências que ele foi aprendendo para conseguir se manter na corda.
O equilíbrio emocional é a nossa capacidade, diante das situações, de conseguirmos manter uma certa estabilidade emocional que vai manter o nosso estado de ânimo com a menor oscilação possível. Gosto de pensar que oscilar humor é natural e desejado. Temos de cada lado de um extremo o medo e a alegria; medo exacerbado nos paralisa e alegria demais é euforia que distorce a nossa realidade também.
Será que neutro também é bom?
Se for um neutro tendendo a uma fuga, a um silêncio em que você está querendo se afastar das pessoas e das suas atividades é um neutro preocupante, que nos deixa em estado de alerta. Obviamente temos que ver se isso é recorrente ao longo do dia, ao longo da semana.
É normal variarmos, o que precisamos ver é se a variação não está sendo longa demais, precisamos tomar cuidado com a oscilação demasiada. A oscilação normal é ficamos no mediano, onde sabemos o que está acontecendo e em que podemos definir nossas próprias emoções.
Quando penso em equilíbrio emocional, começo a pensar na relação com a maturidade. Por que tem a ver?
Porque ao longo da vida vamos vivendo mais experiências, mais situações e aprendemos a lidar com as coisas que a vida vai nos apresentando. Conforme as nossas vivências, a tendência é o equilíbrio emocional se desenvolver.
Para equilibrarmos os nossos ânimos e saúde mental precisamos nos educar emocionalmente, conhecer os gatilhos emocionais que originam os mal-estares que temos, precisamos reconhecer quais sãos as situações que nos tiram do equilíbrio e que a partir delas, nós nos perdemos, reagimos impulsivamente e depois nos arrependemos.
O que é educação emocional?
Temos dificuldade em nomear o que estamos sentindo e em compreender o que o outro está sentindo. Enxergamos os comportamentos e vamos os classificando, mas o comportamento é a última etapa de um processo interno mental que nos leva a uma demonstração de desequilíbrio. Então, precisamos sempre nos educarmos emocionalmente, assim vamos começar a entender o que estamos sentindo, vamos aprender a nomear o que estamos sentindo e qual é o motivo.
Instintivamente já nascemos com algumas emoções que existem para nos proteger. Temos emoções que são formas de proteção, o medo é uma forma de proteção, a raiva é uma forma de reagir e de nos motivar e impulsionar para alguma situação, tristeza é um modo de nos afastarmos de algo que não está funcionando muito bem, alegria é uma maneira de percebermos um lugar seguro.
Cada um interpreta de um modo o que está sendo dito e essa compreensão vem das nossas referências, dos nossos sentidos, dos nossos valores e crenças construídos ao longo da vida.
Então o fenômeno acontece, produzimos um determinado sentido a partir da nossa história de vida a partir das nossas referências e isso causa uma emoção em nós, essa emoção gera um sentimento. Emoções são poucas, sentimentos são muitos. Essa relação que estou construindo com vocês, chega ao comportamento. O comportamento é a última etapa desse processo, o resultado.
Então agora que já entendemos a diferença entre emoções e sentimentos, já vimos como isso funciona em nossas vidas.
As emoções são estímulos internos que advém de situações externas. As emoções permanecem as mesmas conosco ao longo da vida. Entretanto, esse processo vai se tornando cada vez mais complexo, à medida que vamos experienciando coisas vai havendo uma complexidade crescente dos sentidos e significados que estamos dando aos processos existenciais. As emoções então são esses processos intrínsecos que fazem parte de nós desde o nascimento até o final da vida. As emoções e sentimentos são os mesmos, contudo em nenhum momento da vida temos uma educação emocional.
Podemos aprender a ter equilíbrio emocional?
Acredito que sim, quando começamos a fazer esse processo de autoconhecimento, participar com você mesmo dos seus pensamentos, analisar. Um exercício que eu acho muito interessante é ter um caderno, ter um lugar para escrever o que você está sentindo. Descobrir qual é a origem para podermos dimensionar o que estamos sentindo.
Tem como ficar em equilíbrio o tempo todo?
Claro que não. Como eu disse, as emoções estão em nós. Como lidamos com elas é que fará diferença.
O poder que temos é medir o quanto aquilo que está nos afetando e se está nos afetando não é nosso.
Como lidamos com pessoas desequilibradas emocionalmente?
Pense na corda bamba, a pessoa vai cair, perder a razão. Precisamos ajudar a pessoa a encontrar a razão de novo, porque se ela a perdeu, não consegue elaborar direito o raciocínio. Ela está num momento de reação e não de ação. Então, quando temos inteligência emocional, temos o domínio sobre esse conhecimento e vamos entender o momento daquela pessoa. Vamos dar um tempo para aquela pessoa, às vezes em nossa ansiedade queremos dar respostas rápidas, queremos fazer as pessoas se acalmarem de qualquer jeito. Forneça o silêncio para ela, disponha o aconchego, fique do lado, mas não tente acalmar dizendo coisas, ela precisa de um tempo natural, de assentar o que está sentindo e acalmar as próprias emoções. E depois disso vamos conseguir manter um diálogo com essa pessoa.
Como fazemos para manter o equilíbrio?
Precisamos pensar os aspectos emocionais em estruturas físicas, emocionais e biológicas.
Precisamos estar bem fisicamente, se o combustível do seu corpo não está legal ele vai diretamente para o cérebro. Temos que pensar no combustível que estamos colocando no nosso corpo, pois ele tem uma influência em como funcionamos. Saia do sedentarismo. O importante é você encontrar o que você gosta de fazer, coloque seu corpo em movimento. Administre seu dia a dia. E com isso vai trazendo para a consciência, viva o momento presente, o que está acontecendo, não fique naquela ideia de que quando acontecer tal coisa. Venha para o agora, concentre-se no momento presente. Quando o pensamento está lá na frente, quando estamos no futuro, não conseguimos dar solução para o momento presente.
Reserve um tempo de descanso, reserve um tempo para você se envolver em atividades prazerosas, mas que causem reflexões no agora. Faça seu sono funcionar a seu favor. Trabalhe a concentração, leia um livro.
O indivíduo educado emocionalmente consegue dimensionar sentimentos e saber o que é interno, o que é seu, o que não é, o que é contexto social, diferenciar o que é de fora. E vamos lidando com essas coisas, com essas questões, minimizando essa oscilação. Precisamos ter a compreensão do que estamos sentindo e do que os outros estão sentindo, isso vai melhorar muito nossas relações e nossos relacionamentos.
Assim como no começo usei a metáfora do equilibrista, ele não levou um, dois dias para aprender a se equilibrar na corda bamba. Ele precisou de tempo, dedicação, precisou aprender a se equilibrar.
E você está disposto a aprender a se equilibrar nessa corda bamba?
Tenha paciência e comprometimento com você. Paciência e comprometimento em desenvolver o equilíbrio emocional.