Positividade tóxica

Para explicar um pouco sobre por que resolvi falar sobre o tema, vou colocar algumas questões.

Qual é a nossa realidade? Será que só termos um pensamento firme naquilo que acreditamos é suficiente? Por que isso pode ser uma relação tóxica?

Vou começar falando dos sentimentos do indivíduo. Às vezes no consultório encontro pessoas que falam que se sentem culpadas pelo momento que estão passando, há muita insegurança e angústia. E começamos a desdobrar as sensações que o indivíduo está tendo, qual a origem, por que isso está acontecendo, e acabamos descobrindo que às vezes boa parte daquilo que a pessoa está sentindo vem a partir de uma culpa alimentada pelas pessoas ao redor dela. 

A positividade tóxica está relacionada às pessoas que desqualificaram o que estamos sentindo, como se aquilo que sentimos fosse menos. As pessoas estão querendo ser positivas, querem dizer que está tudo bem, contudo na medida que vão tendo esse diálogo, acaba aparecendo a culpa, pois parece que não podemos reclamar, não podemos sentirmo-nos mal. Começamos a nos julgar a partir do filtro externo a nós, a partir do julgamento ou da tentativa do outro de tentar ajudar.

Não estou falando que precisamos ser contra o otimismo. Ser otimista é fundamental. É preciso ter uma valoração, é preciso saber dimensionar se não estamos passando do limite. 

Acredito que precisamos ter otimismo e acreditar que as coisas vão dar certo, entretanto temos que ter o cuidado de olhar para a realidade. Não podemos acreditar que, em determinadas situações, basta ter força de vontade ou pensamento positivo que as coisas vão funcionar.

O que fará as coisas funcionarem é o seu trabalho, é o seu esforço, é você se colocar no seu dia a dia para fazer as coisas acontecerem, é você de alguma maneira ter a postura do agir.

E o que isso tem a ver com positividade tóxica? 

Tem a ver que quando você está vivendo em função do mundo externo, você acaba vivendo muitas vezes no mundo do “eu imaginário”.

Ficamos sempre na expectativa que algo aconteça.

Acredito que existem coisas que não conseguimos explicar, há oportunidades que aparecem na vida e a cada oportunidade que aparece precisamos estarmos prontos para elas. 

Precisamos dimensionar o que está acontecendo e a partir disso criar uma estratégia para passar por aquele momento ruim e ainda sabendo que alguns momentos ruins não vão passar. São os acidentes, algumas coisas que acontecem na vida que precisamos aprender a nos relacionar com elas.

A positividade tóxica faz com que o indivíduo passe a se sentir mal a partir do comportamento dele, como se ele fosse o responsável por aquilo que não está dando certo.

Percebemos a boa vontade das pessoas, mas ela faz com que nos sintamos mal.

O nosso grande problema é o nosso mundo da ilusão, vivemos em ilusão o tempo todo, que faz com que ficamos nesse imaginário muito frágil. Ele é agradável porque não nos traz a realidade, então ele não faz com que nos deparamos com o que nos faz sofrer.

Todos nós de alguma maneira estamos inseridos em ambientes tóxicos, a questão é como lidamos com isso. 

A primeira dificuldade é conseguirmos identificar quais são esses comportamentos, por isso vou listá-los. 

  • Ambiente com fofoca, onde maldigam pelas costas dos outros. Já perceberam que a fofoca é um comportamento que normalmente é traiçoeiro, perverso e torna o ambiente inadequado, tóxico. 
  • Relações afetivas tóxicas. Um comportamento tóxico dentro de uma relação afetiva é não falar explicitamente o que se pensa e não ouvir intencionalmente tudo que o outro quer trazer para dentro da relação. Ou seja, queremos um determinado resultado, mas não falamos o que queremos e não ouvimos o que o outro quer. E assim não temos clareza e ficamos sempre numa posição de neutralidade. Uma das grandes ferramentas das relações é o diálogo, é falarmos a respeito. Tenha diálogo, fale realmente o que você deseja, deixe claro a sua percepção.
  • Ambiente do trabalho. É muito fácil percebermos os discursos motivacionais no ambiente de trabalho. A motivação parte do próprio indivíduo não vem de fora, não é o ambiente externo, que faz com que nos interessarmos por algo. Quem cria o nosso interesse por algo do mundo externo, somos nós mesmos, os nossos desejos, os nossos sentidos, os nossos significados. Primeiro, vem os nossos motivos e depois os do mundo externo.
  • E por último, listo a questão da felicidade. A felicidade é um estado de espírito, pessoal, emocional e cada um de nós tem o seu. Cada um de nós percebe o que lhe faz bem. Na positividade tóxica, parece que somos obrigados a sermos felizes, parece que não podemos estar mal. Não podemos ficar mal.

Quando estamos legítimos dentro do nosso mundo interno, nós estamos bem conosco, as coisas vão acontecendo, mas vamos trabalhando com a variação dos nossos humores porque é natural a variação do humor. Precisamos ter e sentir a variação do humor, e isso é normal e está tudo bem.

As pessoas ficam com receio de sentir, não estou falando para criarmos personalidade histriônica, aquela personalidade que fica desesperada com um humor escancarado, mas estou dizendo não haver problema nenhum em não se sentir bem o tempo todo.

Precisamos sempre saber dimensionar as nossas emoções, mas não podemos ser reféns delas. Somente nós mesmos podemos dizer o tamanho daquilo que estamos sentindo, e quando percebemos que o nosso sentir está extrapolando, procuramos ajuda para entendermos o que estamos sentindo de fato e criarmos uma estratégia para sairmos da situação que está nos prejudicando. 

A educação emocional é a capacidade que temos de lidar com tudo o que sentimos e ainda nos relacionarmos com o mundo externo. Precisamos saber qual é a nossa realidade, termos consciência para entendermos qual é o problema, 

A consciência é o nosso caminho para lidarmos não só com a positividade tóxica, mas com todas as adversidades que a vida nos apresenta e também com as coisas presentes ao nosso redor.

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